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sexta-feira, 19 de abril de 2013

"A Lenda da Bunda Angolana"

A Lenda da Bunda Angolana




Por Almir Visconde.



Conta o livro de história carnavalesca, que no início do Século XIX, veio da colônia portuguesa da Angola, na África tropical, da tribo Bunda, um belo espécime feminino, uma mulher com uma bunda com B maiúsculo, sua arma principal de guerreira sorridente que era. Tinha o nome de rainha quilombola, pois se chamava Ana, aliás, era a rainha negra da beleza selvagem, uma leoa faminta. A deusa de ébano da sensualidade.

Aportou em solo tupiniquim, a fruta negresca, que logo se transformou na embaixatriz da preferência nacional, uma escrava que tinha súditos, em toda a corte imperial do Rio de Janeiro. Não era uma negrinha qualquer e sim uma mucama predileta, o lucro certo de seu amo. Desfilava com uma cesta de quitutes na cabeça, descendo a ladeira na Rua dos Ourives, gingando seu dorsos e o glúteo colossal, como se estivesse no ritmo de um tambor com batuque alucinado. Era uma boneca Abayomi requebrando divinamente, levando ao delírio os transeuntes e também muita inveja nas sinhás branquelas. Até o padeiro patrício, saía à porta de seu comércio, para ficar embasbacado com tamanha graciosidade da morena. Marinheiro de todas as bandeiras, que a encontravam no cais do porto, naufragavam diante da escultura vulcânica.

O fato inesperado aconteceu, foi no entardecer carioca, na hora de conferir a féria do dia, que as escravas de ganho tinham de fazer sempre. A rapariga de Orfeu entrou no sobrado de seu donatário, um mercantilista de segunda, aquele que só vê dinheiro em tudo o que faz. Ela nesse momento crucial exibia um sorriso soberano, que existe somente nos seres superiores, demonstrando sua total segurança no que estava fazendo. Ao deparar-se com ele, abriu um alforje e despejou tudo que estava dentro, vieram abaixo moedas de ouro, muitas notas de contos de réis, sobre a mesa, causando um barulho tremendo, aquilo tudo era uma pequena fortuna. Então disse ela:

- Quero comprar minha carta de alforria!

Estava ali uma montanha de dinheiro, mas era exatamente o valor que seu patrão pedira pela sua libertação, sabia que valia muito para seu proprietário, mas tinha consciência também que a liberdade valia mais do que todo o dinheiro do mundo.

Sem pestanejar muito, o escravagista lusitano aceitou o pedido, totalmente seduzido pela oferta da moçoila e sem demorar, puxou de uma gaveta do armário, uma pequena folha que continha algo escrito, ele mergulhou a pena sobre um vidro de tinta, assinando o documento de soltura . Ele entregou o papel, que ela rapidamente pegou da mão dele e leu-o para verificar a autenticidade, pois desconfiar é sempre bom remédio para dissabores futuros. Sem dizer-lhe uma única palavra, virou-lhes as costas e saiu porta afora.

Quando Ana chegou à rua, um fato mágico aconteceu. Esta flor africana transformou-se em uma linda borboleta de prata e foi voando para encontrar o sol poente; o astro-rei estava escondido atrás do Morro do Corcovado aguardando-a , para juntos irem brilhar em todos os sambódromos, desta nação que é a terra brasilis.

Na praça, o pintor Debret terminou o qu adro apoteótico e exclamou:

Que bunda!

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